Uma pergunta a queima-roupa: “Você
conhece o(s) seu(s) filho(s)?” Num primeiro momento a resposta afirmativa é
automática, e a pergunta parece até ofensiva, pois é obvio que convivendo com o
filho desde o nascimento toda a mãe/pai o conhece... óbvio! Será? Minha
vivencia clínica me faz questionar novamente, pois na prática a realidade não
se mostra assim tão obvia.
Para conhecer alguém precisamos de
tempo, de dedicação, de espaço emocional. Ressalto isso porque a maioria dos
pais passa algumas horas diárias na
presença dos filhos, mas as vezes estão apenas fisicamente presentes sem
interagir, sem dialogar ou mesmo sem manifestações de afeto. O pior é que é muito
fácil isso acontecer: nos envolvemos com tarefas domésticas, TV, computador,
telefone, jornal, ou mesmo a rotina escolar dos filhos... o tempo passa tão
rápido que já é hora de dormir ou sair novamente, e não interagimos! Os filhos
sentem isso, e as vezes aprendem esta forma de interação e nem sentem mais
falta, isso vira o normal... até porque acontece também na casa dos amigos...
Uma pesquisa americana feita em 2009
chegou a triste estimativa que os pais passavam apenas cerca de 17 minutos
SEMANAIS de tempo qualificado com seus filhos adolescentes (entenda-se tempo
qualificado como momentos de diálogo e interação). Apesar de parecer
assustador, eu acredito que a realidade brasileira não deve ser muito diferente
e nem se limitar a esta faixa etária; vejo pais e filhos completamente
distantes, cumprindo tarefas e obedecendo regras e protocolos, mas com pouco
afeto e interesse uns pelos outros. É triste, interfere no desenvolvimento e
pode passar despercebido, pois os filhos evoluem cognitivamente, mas não
aprendem a se relacionar com qualidade.
Precisamos nos questionar sobre a
qualidade de tempo que passamos com nossos filhos. Nós os conhecemos? Nos
deixamos conhecer? Há trocas afetivas, carinhos verbais ou físicos em nossas
casas? Sentimos prazer na companhia uns dos outros? Vou além e amplio o
questionamento para o casamento, para os amigos, para os demais familiares...
Que tempo estamos dedicando a nossas relações?
Para que possam responder estas
perguntas sugiro uma brincadeira simples, mas que pode ser muito rica. Os
adolescentes chamam de “quiz”: consiste em uma série de perguntas do tipo cor
preferida/ comida preferida/ melhor amigo, etc... pai e filho respondem um do
outro e depois checam quantos cada um acertou. Os resultados são sempre
assustadores! Ainda mais quando incluem a historia da família (como pai e mãe
se conheceram/ como a mãe soube que estava grávida, etc...). É uma pena
constatar com tudo isso que muitas vezes a família não compartilha nem suas
historias, coisa que as crianças adoram!
Então fica a dica: com
ou sem “quiz” vamos buscar uma melhor forma de interação, passando tempo
qualificado com quem amamos. E nos casos em que mesmo se esforçando a interação
não fluir bem talvez seja a hora de procurar ajuda, afinal os psicólogos e
terapeutas de família estão aí para isso: qualificar relações e melhorar a comunicação,
gerando proximidade e afeto.
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