terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

NÓS E A ADOLESCÊNCIA


Os filhos nascem, crescem, e quando acreditamos que o trabalho vai diminuir eles se tornar adolescentes! Para muitos pais, esta fase é sinônimo de conflitos, incômodos e muitas dúvidas. Não é raro a chegada nos consultórios de psicologia de pais e mães exaustos, desnorteados e com muitas queixas de seus “aborrescentes”. Esse panorama também se repete na escola, nos grupos sociais, no esporte, etc. Mas porque essa fase nos parece tão difícil?

 A adolescência é uma fase de transição da infância para a vida adulta. É um período de muitas transformações físicas e emocionais, tendo como principais tarefas evolutivas a construção de uma identidade diferenciada dos pais, marcada pelos ensaios de escolha conjugal e a aquisição da escolha profissional. A complexidade desta fase é decorrente do acontecimento de grandes mudanças em curtos espaços de tempo, o que deixa pais e educadores confusos e sem parâmetros.

Acredito que um dos complicadores ao lidar com adolescentes é que muitas vezes não nos damos conta que o desenvolvimento físico e cognitivo não é acompanhado pelo desenvolvimento emocional; assim, nossos adolescentes podem até ter tamanho, ter o conhecimento racional, mas na hora da ação muitas vezes não tem maturidade emocional para colocar esses conhecimentos em prática. Isso fica visível nas questões de sexualidade, de álcool e drogas, de relacionamentos, onde eles têm toda a informação, mas muitas vezes, por imaturidade emocional, não as usam, gerando inúmeros problemas.

Precisamos ser mais empáticos com nossos adolescentes. Assim como quando vamos nos relacionar com crianças precisamos “regredir emocionalmente” para conseguir nos comunicar eficazmente com elas, também precisamos fazer isso com os adolescentes. Por que temos facilidade de regredir, sentar no chão e brincar, entrando no mundo das crianças, mas muitas vezes não tentamos fazer o mesmo, entrando no mundo cibernético de nossos jovens? Talvez para muitos de nós seja mais fácil entrar em contato com nossa criança interior, mas mais difícil de se conectar com o adolescente que ainda existe dentro de nós.

Parafraseando um grande pensador, precisamos “adolescer” junto com nossos filhos. Procurar conhecer seu mundo, seus gostos, nos conectar com suas dúvidas, seus temores, buscando compreender o que realmente faz sentido para eles. A proximidade, o diálogo, a compreensão são nossas principais armas para conseguir cumprir bem nosso papel de pais  - dar limites, orientar – sem nos transformar em chatos  ou ditadores que apresentam um mundo adulto nada atraente.

Sem dúvida, a adolescência mudou muito, e isso faz muitos pais, de gerações tão diferentes, ter dificuldades de lidar com esses novos paradigmas. Nesse sentindo, temos a disposição diversos recursos psicoterápicos para ajudar a sanar tais dificuldades, tanto no que diz respeito à terapia de família quanto individual.
 
           A terapia de família irá ajudar se aproximar e reorganizar o relacionamento com os adolescentes. Já a  psicoterapia individual pode ajudar os pais a fazerem as pazes com seu adolescente interior, propiciando resignificar suas vivencias através da adolescência dos filhos, numa maravilhosas segunda chance. Em qualquer um dos casos, todos saem ganhando e conseguem perceber que a adolescência pode ser uma faze linda, riquíssima e bem menos assustadora.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

VOCÊ CONHECE SEU FILHO?

            Uma pergunta a queima-roupa: “Você conhece o(s) seu(s) filho(s)?” Num primeiro momento a resposta afirmativa é automática, e a pergunta parece até ofensiva, pois é obvio que convivendo com o filho desde o nascimento toda a mãe/pai o conhece... óbvio! Será? Minha vivencia clínica me faz questionar novamente, pois na prática a realidade não se mostra assim tão obvia.

            Para conhecer alguém precisamos de tempo, de dedicação, de espaço emocional. Ressalto isso porque a maioria dos pais passa algumas horas  diárias na presença dos filhos, mas as vezes estão apenas fisicamente presentes sem interagir, sem dialogar ou mesmo sem manifestações de afeto. O pior é que é muito fácil isso acontecer: nos envolvemos com tarefas domésticas, TV, computador, telefone, jornal, ou mesmo a rotina escolar dos filhos... o tempo passa tão rápido que já é hora de dormir ou sair novamente, e não interagimos! Os filhos sentem isso, e as vezes aprendem esta forma de interação e nem sentem mais falta, isso vira o normal... até porque acontece também na casa dos amigos...

Uma pesquisa americana feita em 2009 chegou a triste estimativa que os pais passavam apenas cerca de 17 minutos SEMANAIS de tempo qualificado com seus filhos adolescentes (entenda-se tempo qualificado como momentos de diálogo e interação). Apesar de parecer assustador, eu acredito que a realidade brasileira não deve ser muito diferente e nem se limitar a esta faixa etária; vejo pais e filhos completamente distantes, cumprindo tarefas e obedecendo regras e protocolos, mas com pouco afeto e interesse uns pelos outros. É triste, interfere no desenvolvimento e pode passar despercebido, pois os filhos evoluem cognitivamente, mas não aprendem a se relacionar com qualidade.

Precisamos nos questionar sobre a qualidade de tempo que passamos com nossos filhos. Nós os conhecemos? Nos deixamos conhecer? Há trocas afetivas, carinhos verbais ou físicos em nossas casas? Sentimos prazer na companhia uns dos outros? Vou além e amplio o questionamento para o casamento, para os amigos, para os demais familiares... Que tempo estamos dedicando a nossas relações?

Para que possam responder estas perguntas sugiro uma brincadeira simples, mas que pode ser muito rica. Os adolescentes chamam de “quiz”: consiste em uma série de perguntas do tipo cor preferida/ comida preferida/ melhor amigo, etc... pai e filho respondem um do outro e depois checam quantos cada um acertou. Os resultados são sempre assustadores! Ainda mais quando incluem a historia da família (como pai e mãe se conheceram/ como a mãe soube que estava grávida, etc...). É uma pena constatar com tudo isso que muitas vezes a família não compartilha nem suas historias, coisa que as crianças adoram!
Então fica a dica: com ou sem “quiz” vamos buscar uma melhor forma de interação, passando tempo qualificado com quem amamos. E nos casos em que mesmo se esforçando a interação não fluir bem talvez seja a hora de procurar ajuda, afinal os psicólogos e terapeutas de família estão aí para isso: qualificar relações e melhorar a comunicação, gerando proximidade e afeto.