segunda-feira, 23 de novembro de 2009

NÓS E A ADOLESCÊNCIA...


Os filhos nascem, crescem, e quando acreditamos que o trabalho vai diminuir eles se tornar adolescentes! Para muitos pais, esta fase é sinônimo de conflitos, incômodos e muitas dúvidas. Não é raro a chegada nos consultórios de psicologia de pais e mães exaustos, desnorteados e com muitas queixas de seus “aborrescentes”. Esse panorama também se repete na escola, nos grupos sociais, no esporte, etc. Mas porque essa fase nos parece tão difícil?
A adolescência é uma fase de transição da infância para a vida adulta. É um período de muitas transformações físicas e emocionais, tendo como principais tarefas evolutivas a construção de uma identidade diferenciada dos pais, marcada pelos ensaios de escolha conjugal e a aquisição da escolha profissional. A complexidade desta fase é decorrente do acontecimento de grandes mudanças em curtos espaços de tempo, o que deixa pais e educadores confusos e sem parâmetros.

Acredito que um dos complicadores ao lidar com adolescentes é que muitas vezes não nos damos conta que o desenvolvimento físico e cognitivo não é acompanhado pelo desenvolvimento emocional; assim, nossos adolescentes podem até ter tamanho, ter o conhecimento racional, mas na hora da ação muitas vezes não tem maturidade emocional para colocar esses conhecimentos em prática. Isso fica visível nas questões de sexualidade, de álcool e drogas, de relacionamentos, onde eles têm toda a informação, mas muitas vezes, por imaturidade emocional, não as usam, gerando inúmeros problemas.

Precisamos ser mais empáticos com nossos adolescentes. Assim como quando vamos nos relacionar com crianças precisamos “regredir emocionalmente” para conseguir nos comunicar eficazmente com elas, também precisamos fazer isso com os adolescentes. Por que temos facilidade de regredir, sentar no chão e brincar, entrando no mundo das crianças, mas muitas vezes não tentamos fazer o mesmo, entrando no mundo cibernético de nossos jovens? Talvez para muitos de nós seja mais fácil entrar em contato com nossa criança interior, mas mais difícil de se conectar com o adolescente que ainda existe dentro de nós.

Parafraseando um grande pensador, precisamos “adolescer” junto com nossos filhos. Procurar conhecer seu mundo, seus gostos, nos conectar com suas dúvidas, seus temores, buscando compreender o que realmente faz sentido para eles. A proximidade, o diálogo, a compreensão são nossas principais armas para conseguir cumprir bem nosso papel de pais - dar limites, orientar – sem nos transformar em chatos ou ditadores que apresentam um mundo adulto nada atraente.
Sem dúvida, a adolescência mudou muito, e isso faz muitos pais, de gerações tão diferentes, ter dificuldades de lidar com esses novos paradigmas. Nesse sentindo, temos a disposição diversos recursos psicoterápicos para ajudar a sanar tais dificuldades, tanto no que diz respeito à terapia de família quanto individual.
A terapia de família irá ajudar se aproximar e reorganizar o relacionamento com os adolescentes. Já a psicoterapia individual pode ajudar os pais a fazerem as pazes com seu adolescente interior, propiciando resignificar suas vivencias através da adolescência dos filhos, numa maravilhosas segunda chance. Em qualquer um dos casos, todos saem ganhando e conseguem perceber que a adolescência pode ser uma faze linda, riquíssima e bem menos assustadora.

sábado, 31 de outubro de 2009

Mitos e verdades sobre Terapia de Casal


Afinal, o que é terapia de casal??? Apesar de ficar bem explícito pela nomenclatura, percebo que esse nome evoca uma série de fantasias e mitos, provando que em nossa sociedade ainda há um véu de mistério sobre esse recurso terapêutico. Pensando nisso, trago alguns esclarecimentos:

A Terapia de casal é um tipo de psicoterapia que tem como foco a dinâmica do relacionamento conjugal. Nesse processo, o olhar do psicoterapeuta não esta voltado apenas aos membros que compõem o casal, mas sim à relação que os dois estabelecem. Assim, o terapeuta de casais tem 3 pacientes: ele, ela e a relação.

Trago aqui algumas perguntas que freqüentemente me são feitas sobre esse tipo de psicoterapia:


“Vamos lavar roupa suja e fazer bate-boca na tua frente?” Esse é um temor comum em quem esta em crise conjugal e pensa em buscar ajuda, mas eu afirmo que não. A idéia é promover um novo tipo de comunicação entre o casal, buscando construir soluções novas para antigos problemas. Para isso usamos uma série de técnicas e recursos para promover uma forma de interação diferente da que o casal costuma usar. Costumo dizer que se lava muita roupa suja sim, mas em alto estilo!

“Terapia de casal funciona?” Sem dúvida alguma, funciona, mas nem sempre atende as expectativas iniciais... O compromisso da terapia é com a promoção da saúde emocional dos membros do casal e não com a manutenção ou a ruptura do casamento. O psicoterapeuta vai ajudar o casal e avaliar o que lhe será mais saudável e proveitoso, para ambas as partes.

“Quem faz terapia de casal já esta à beira da separação?” Há um mito de que terapia de casal resulta em separação, mas ele não é verdadeiro. O que pode acontecer é que, em função de desconhecimento ou preconceito, os casais só buscam terapia após vários anos de insatisfação, quando o casamento já esta muito deteriorado e não há mais vínculos a serem resgatados. Nesses casos, a terapia de casal pode converter-se em “terapia do divórcio”, o que também é proveitos, pois se separar bem é um grande desafio.

Em minha prática percebo que, em muitas situações, apesar da descrença inicial, a retomada do casamento é algo possível se ainda existe respeito e afeto. Qualquer trabalho com casais inicia numa boa avaliação do relacionamento, buscando que cada parceiro se dê a conhecer e retome a comunicação e o vínculo. Muitas vezes pequenos movimentos, motivados pela técnica certa, são capazes de iniciar uma nova história de amor, com os mesmos protagonistas.

A terapia de casal é considerada por diversos teóricos como um dos tipos de psicoterapia mais difíceis de se conduzir, tanto pela sua complexidade teórica quanto pelo prepara técnico e pessoal que o psicólogo necessita ter para lidar com as questões conjugais.. Nesse sentido, é imprescindível buscar um psicoterapeuta com especialização direta em terapia de casal, que acredite no casamento e que, de preferência, mantenha relacionamento conjugal saudável. Infelizmente, ainda existem profissionais que acreditam que fazer terapia de casal é juntar as duas partes do casal numa mesma sessão e conduzir o que aparece; ressalto para o perigo de tal situação, pois isso pode trazer vários prejuízos ao casal que tanto necessita de ajuda.

Em qualquer caso, não existem soluções mágicas. A boa terapia inicia com a escolha assertiva do profissional qualificado e o empenho do casal em buscar um funcionamento mais saudável. É um recurso que vale a pena ser usado, pois a realização afetiva na relação conjugal é indispensável para uma boa qualidade de vida, em todos os sentidos.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Crise de Meia-Idade???


Nossa vida, como tudo na natureza, é feita de ciclos, cada um marcado por uma tarefa evolutiva. É assim na infância, no inicio da adolescência, na passagem da vida adulta... cada fase tem seu período crítico, seus mitos e suas verdades. Mas percebo que, de todas, a mais mítica e assustadora é a famosa “crise de meia-idade”.

Assim como a adolescência, a meia-idade é um dos períodos mais cheios de conflitos, pois é pulsante a necessidade de uma intensa reformulação da identidade. Na grande maioria das vezes, a pessoa passou os anos anteriores muito ocupada com a aquisição de papéis e aptidões: crescimento profissional, formação e administração da família, aquisição de patrimônio, colocação social, entre tantas outras tarefas do mundo moderno. A crise de meia-idade surge no meio de uma aparente calmaria... trabalho estável, filhos crescidos (e muitas vezes saindo de casa), patrimônio consolidado, muitos objetivos alcançados e, em diversos casos, uma identidade perdida no meio de tudo isso.

Para ajudar (ou complicar) a meia-idade dos pais é concomitante à adolescência dos filhos... aí são crises sobrepostas: como ajudar meu filho a descobrir quem é, ou quem quer ser, se estou atrás das mesmas respostas? Na meia idade, apesar de tantos papéis aparentemente tão estáveis, é comum não se saber mais onde anda nossa verdadeira essência: “Sou o profissional tal, o pai da fulana, marido da beltrana...” mas e embaixo de tudo isso, quem eu sou? O que eu ainda quero da vida? O que ainda tenho a conquistar?

Nessa fase, é inevitável uma reformulação em todos os níveis, mas com certeza o conjugal é o que mais precisa de atenção. Não é à toa que os maiores índices de divorcio acontecem nessa fase. Depois de tantos anos olhando para frente, cuidando dos objetivos da família, quando marido e mulher se olham nos olhos após esses longos anos, as vezes levam um susto ao encontrar um surpreendente desconhecido.

É a hora de recasar. Olhar novamente para o companheiro, procurar conhecê-lo de novo, saber de seus sonhos, seus desejos, suas expectativas frente à vida. É hora de um novo contrato de casamento, com expectativas mais reais e ganhos a curto prazo... revive-se as descobertas dos primeiros anos de casado, pena que muitas vezes sem o mesmo afeto.

Para muitos, esses anos anteriores geraram um afastamento grande, mágoas incontáveis e um muro de frustrações. Para esses, o divórcio as vezes parece o único caminho; mas não é... muitas vezes um simples confronto de expectativas, uma melhora na comunicação e um novo pacto de investir na relação são suficientes para retomar o casamento e redescobrir a cumplicidade.

Por todos esse panorama, a meia-idade é um período muito fértil para a psicoterapia, tanto individual quanto de casal. Poder conta com ajuda para se redescobrir, para re-investir no casamento ou até para poder ter forças para mudar tudo é uma atitude de cuidado e responsabilidade. Talvez essa seja a fase mais adequada para buscar a tão falada qualidade de vida e se permitir investir na felicidade.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Novo Olhar sobre a Psicologia

“Você precisa de atendimento psicológico.” ... “ Vá procurar uma terapia!”... Muitas pessoas se chocam ao ouvir tal indicação, tanto quando ela vem por meio de um profissional de saúde quanto quando é a dita por um amigo ou familiar; mas por que o espanto? O que significa, para cada um de nós, “precisar de psicoterapia”?

Talvez as respostas para essas perguntas devam ser buscadas nas representações sociais que construímos em torno da psicologia e da atuação dos psicólogos. Para isso, precisamos revisitar nossos conceitos de saúde e doença, sanidade e loucura, bem como nossas intenções de crescimento. Será que só precisamos buscar ajuda profissional quando os problemas são agudos e insustentáveis? Precisamos perder saúde física, relacionamentos importantes, para então atentar que emocionalmente já estamos doentes há tempos?

O conceito de saúde evoluiu. Hoje ele não significa apenas ausência de doença. É algo muito mais amplo, que abrange um estado de bem estar bio-psico-social. Assim, para ser considerado saudável além de saúde física é preciso estabelecer relações saudáveis, com vínculos que nos possibilitem crescer. Pensando assim, quantas pessoas realmente saudáveis você conhece?

Infelizmente os relacionamentos de um modo geral estão muito adoecidos. Famílias corroídas pela ausência de diálogo e intimidade, ambientes de trabalho adoecedores, casamentos desgastantes, amizades volúveis, mil necessidades pulsantes soterradas por expectativas frustradas... muitas vezes a cronicidade disso tudo acaba gerando uma doença que é na verdade apenas a ponta do iceberg.

Nesse sentido precisamos atuar preventivamente. Muitas vezes a indicação de procurar um psicólogo vem da evidencia de que estamos entrando num caminho de adoecimento. A psicologia esta aí para nos ajudar com uma infinidade de técnicas e recursos para melhorar nossa saúde emocional e relacional. Precisamos mudar nossa visão de que psicoterapia “ é coisa para louco”, pois a maior loucura é se negar a buscar recursos para viver melhor.

Aproveito a proximidade da comemoração do dia do psicólogo para refletir a real missão desta profissão. Somos agentes de saúde, lutamos pelo bem estar global das pessoas, estamos de olho no lado saudável, nas possibilidades de crescimento dos indivíduos, dos casais, das famílias... não tratamos doenças, tratamos pessoas! Seus dilemas, seus conflitos... suas capacidades de encontrar novas formas de tornar a vida mais rica, mais feliz. Muitas vezes é num encontro terapêutico que começamos a desata amarras que nos prendem a infelicidade.

Portanto, quando ouvir a indicação de procurar um psicólogo pense nas suas reais possibilidades de se desenvolver de formas mais saudável em todos os níveis. Buscar ajuda sempre vale a pena!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Problemas escolares: o que fazer?


Metade do ano se passou, metade do ano letivo também já se foi e para muitos pais esse é só o inicio das preocupações. A entrega dos boletins acontece e para alguns traz com ele desagradáveis noticias. Saltam aos olhos os problemas de aprendizagem, certificam-se os problemas de comportamento... os pais se perguntam: e agora, o que fazer???


É hora de agir. Ainda há tempo hábil para resgatar o ano ao invés de, mais tarde, apenas tentar remediar os estragos. O primeiro passo é identificar qual a real dificuldade e descobrir sua origem; esta pode ser uma descoberta bastante reveladora.


Pesquisas apontam que mais de 80% dos casos de dificuldades escolares são resultado de problemas emocionais. É um dado alarmante, pois mostra o adoecimento psíquico de nossas crianças. Mas será isso mesmo? Porque nossas crianças estão adoecendo? Como terapeuta de casal e família arrisco aprofundar a questão.

Acredito que na grande maioria das vezes as dificuldades escolares são apenas um sintoma que denuncia um problema familiar. A escola acaba sendo o local onde a criança expressa sua confusão e angústia, mostrando que a sua sobrecarga emocional a esta impedindo de aprender, ou de se relacionar de forma saudável.

Nesse sentido, peço atenção especial aos diagnósticos apressados. Agora “estada na moda” o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e suas promessas de controle/cura através de medicamentos. Precisamos ter cautela! Muitas vezes a desatenção ou a hiperatividade são apenas sintomas usados para expressar as dificuldades e não chegam a preencher os critérios para um transtorno neuroquímico como o TDAH.

Na grande maioria dos casos os pacientes que chegam rotulados de portadores de TDAH estão na verdade reagindo a uma conflitiva bem específica. O mais comum é apresentar sintomas como reação a uma crise conjugal dos pais; neste sentido os sintomas estão a serviço de manter os pais ocupados com os problemas do filho e, de certa forma, evitar que a crise evolua para uma separação. É um processo doloroso, no qual a criança sofre muito, pois carrega sobre seus frágeis ombros todo o peso do desajuste familiar.

Diante disso vamos olhar para nossas crianças com mais atenção. Que verdadeiro recado os boletins nos trazem? O que os sintomas vêem denunciar? Sem dúvida a melhor alternativa quando o problema escolar aparece é buscar uma boa avaliação para descartar causas físicas e cognitivas e entender o real significado dos sintomas. Em todos os casos uma psicoterapia de família ajuda muito, pois além de permitir um olhar mais global sobre o problema acaba trazendo benefícios para toda a família.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Quando o final não é feliz...



Todos desejamos encontrar um companheiro, namorar, traçar um caminho comum e tentar “ser feliz para sempre...”. Essa busca, que se inicia na adolescência, muitas vezes perdura pela vida toda, mas nem sempre tem um final feliz. Todos ficamos chocados com o número significativo de crimes passionais ocorrendo em nossa cidade (Palmeira das Missões); verdadeiras tragédias que ceifam vidas na plenitude da juventude, desgraçando famílias inteiras e nos deixando sem saber o que pensar.

Não estou aqui para fazer diagnósticos ou julgamentos, mas sim discutir a questão sem pudores, focando na disfuncionalidade dos relacionamentos afetivos. Há sinais de alerta que precisamos conhecer para proteger nossos jovens de finais tão trágicos.
Precisamos estar atentos para as “pequenas violências” que já começam a acorrer no inicio dos namoros. A submissão e renúncia da identidade são as primeiras coisas a aparecer. Vemos meninas lindas, cheias de vida e espontaneidade começarem a se apagar diante de namorados ciumentos, abrindo mão dos amigos, do convívio com a família, dos gostos pessoais... claro que uma certa dose disso ocorre em todos os relacionamentos, mas nesses casos não é algo transitório, mas sim progressivo, que acaba gerando um distanciamento cada vez maior das pessoas que poderiam questionar tal posição.

Toda relação é uma questão de encaixe. Muitas vezes, enquanto um se submete e o outro dita as regras, a relação vai “bem”... até que alguém questione. Precisamos prestar atenção em como o jovem casal se organiza nas primeiras discordâncias: é sempre o mesmo a ceder? Há lugar para o diálogo? Há ameaças de abandono? Acontecem mudanças de ambas as partes ou apenas um se molda ao outro?

Precisamos educar nossos filhos para combater qualquer sinal de violência nos relacionamentos. Discussões muito ásperas e agressões verbais já são primeiros indícios de uma personalidade agressiva. Um mínimo empurrão, segurar os braços com força, um puxão de cabelo, um mínimo tapa... enfim, toda grande agressão inicia com uma pequena. Temos que orientar a todos que NENHUM TIPO DE VIOLÊNCIA é aceitável numa relação conjugal, pois sempre é a porta de entrada para agressões maiores.

A agressão física é o sintoma que expressa a impossibilidade de se comunicar. Nesse sentido, agressor e agredido são vítimas, pois estão reféns do descontrole e da inabilidade de encontrar outras formas de se comunicar. Relações onde existe agressão física são construídas sobre os pilares de abusos e submissão gerada pelo medo. Isso acaba gerando uma dinâmica perversa, onde a vítima se envergonha e silencia, muitas vezes se julgando causadora da agressão. NADA JUSTIFICA AGRESSÃO! Se conseguirmos passar essa premissa para nossos filhos, já conseguiremos evitar muitos desfechos catastróficos.
Vamos abrir canais de diálogo, conversar com nossos filhos adolescentes e jovens adultos sobre seus relacionamentos, sua satisfação conjugal e expectativas. Precisamos desmistificar a idéia de que sapos viram príncipes, mostrando que muitas vezes as coisas que nos desagradam no início podem se tornar intoleráveis com o passar do tempo.

Claro que isso não é uma tarefa fácil. Para isso podemos contar com ajuda, buscando uma terapia de família para promover esse diálogo e reaproximar pais e filhos. Vamos investir em prevenção, usar as tragédias como motivadoras para a construção de novos caminhos rumo a finais mais felizes.

Dayani Croda Machado

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Os Desafios da Maternidade


“Ser mãe é padecer no paraíso!” Essa frase me intriga desde os tempos em que eu mau sabia o que significava “padecer” e hoje me parece a mais sublime das verdades. Apesar de batida, é uma frase que traduz muito bem as delícias, dissabores e desafios que envolvem a maternidade.

As mães padecem... os filhos não vem com manual de instrução... chegam frágeis, num momento de total fragilidade das mulheres; corpo ressentido por mudanças drásticas na gravidez, mundo emocional bombardeado por temores quanto a competência para cuidar de um bebê, medo das mudanças na relação conjugal... o cansaço da rotina com um recém nascido, as mil avós, tias, amigas dando dicas que mais atrapalha que ajudam... expectativas, expectativas, expectativas... mesmo a mais segura das mulheres padece, carece de cuidado para cuidar...

O paraíso chega... o primeiro toque... o primeiro olhar... o sentimento que nada mais importa... o prazer de ser única e insubstituível para aquele pedaçinho de gente... e depois segue nos primeiros sorrisos, primeiras gracinhas, primeiras palavras e no prazer de assistir de camarote o desabrochar de um novo ser.

Encontrar um equilíbrio neste “padecimento no paraíso” não é tarefa fácil. Tem horas que a maternidade parece uma dádiva, outras vezes, um castigo... não aceitar essa dualidade e não criar espaço para desintoxicar esses sentimentos é a porta de entrada para uma depressão pós-parto e para transtornos depressivos subseqüentes.

O papel materno é totalmente absorvente... o filho passa a ser a coisa mais importante, a prioridade absoluta... e não é esse o problema! O problema começa quando se espera que todas as gratificações e reconhecimentos que necessitamos provenham dessa relação. Aí acontece o desequilíbrio: descuidados do nosso papel de esposa, da profissão, dos amigos, deixamos de fazer coisas que nos nutrem e acabamos abrindo mão das outras facetas que constituem nossa identidade. Paradoxalmente, essa supervalorização da maternidade nos transforma em péssimas mães!

Se estamos confusas e mal nutridas, fica muito mais difícil enfrentar os percalços da primeira infância, as turbulências da adolescência e o bater de asas da vida adulta. Padecemos e gozamos do paraíso em cada fase e podemos até adoecer quando nosso ninho fica vazio...

Mães também precisam de cuidado... e a primeira pessoa cobrada é o parceiro. É aí que o casamento padece. Não é por acaso que os maiores índices de divórcio acontecem no primeiro ano de vida do bebê e quando os filhos saem de casa. São momentos de crises vitais, inevitáveis. O casal tem que se reorganizar e encontrar um novo equilíbrio, uma nova forma de relação. A terapia de casal esta aí para ajudar a não deixar que essa onda vire um tsunami.

São tantos os desafios da maternidade... Cuidar de si, cuidar do casamento e ainda cuidar dos filhos... ter em mente que tanto a falta de cuidado quanto o excesso fragiliza, impede um crescimento saudável. O maior desafio é acertar a dose e podemos/devemos buscar ajuda se nos perdemos pelo caminho. Uma maternidade saudável só é conquistada quando a mulher escondida atrás da mãe esta bem cuidada, física e emocionalmente.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

BULLYING – Um grave problema

O ano letivo começou e passada a euforia dos primeiros dias de aula os problemas escolares começam aparecer. Hoje em dia, além dos problemas individuais mais comuns (agressividade, hiperatividade, problemas cognitivos, depressão) os educadores se vêem frente a um problema mundial crescente: o Bullying.
O termo Bullying significa ameaça ou intimidação. É usado para identificar uma prática escolar que consiste em atitudes abusivas, agressivas, intencionais e repetidas, por parte de um agressor ou grupo de agressores, que perdura por um longo período de tempo. Esses comportamentos ocorrem sem motivação aparente, entre iguais (relação aluno-aluno), porém, dentro de uma realidade desigual de poder, gerando intimidação na vítima, dor, angústia e sofrimento físico e/ou emocional.
Há 3 tipos de manifestações do Bullying:
Físico: consiste em práticas como bater, roubar, danificar objetos alheios
Verbal: consiste em provocar, usar apelidos pejorativos, ameaçar, intimidar
Relacional: consiste em exclusão social, humilhação, espalhar rumores, por fim a amizades propositalmente
O Bullying tem conseqüências muito nocivas a todos os envolvidos. Tanto quem sofre o comportamento abusivo (alvos), quanto quem assiste a essa violência (testemunhas) acaba sendo gravemente afetados por ela. Não podemos esquecer que são nos anos escolares que estamos estruturando nossa personalidade, nos capacitando socialmente, e que num ambiente de humilhação e intimidação isso não ocorre saudavelmente.
As vítimas de Bullying apresentam comportamentos bem característicos: a criança tornar-se mais retraída, apresenta queda no rendimento escolar, falta de concentração, fobias, perda da vontade de ir ao recreio, tentativas de fingir estar doente para não ir à aula, além de diversos outros sintomas depressivos. Pode ocorrer da criança tornar-se agressiva ou irritadiça, como um reflexo das agressões que esta sofrendo.
A dinâmica do Bullying é complexa e segue os mesmos parâmetros de outros abusos: a vítima fica envergonhada e pode não delatar a agressão. Esse sofrimento solitário é devastador e trás graves danos a auto-estima da criança, afetando todo o seu desenvolvimento.
Toda a sociedade precisa ficar alerta e esse problema. Apelidos pejorativos, discriminação, “brincadeira” violentas, pequenas humilhações NÃO são “coisas normais de criança”! Isso se chama Bullying, trás prejuízos a todos e necessita de atenção especial. É preciso elaborar campanhas de conscientização dentro e fora da escola. Professores precisam ser preparados para lidar com isso, pais necessitam de orientação para ter diálogos com seus filhos sobre esse problema. Com certeza a interação família-escola é o melhor caminho para erradicar esses comportamentos.
Quanto a aqueles que já sofrem com o Bullying é preciso remediar os estragos. Vítimas e agressores podem precisar de ajuda psicológica especializada para superar o problema. O caminho é esse: aliar prevenção com reparação, buscando uma melhor qualidade de vida dentro da escola.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

DE CINDERELA À MULHER MARAVILHA

Apesar do machismo presente em nossa sociedade, é inegável que as mulheres sempre desempenharam um papel central na vida familiar. Os papeis de mãe e esposa sempre foram os alicerces da família, sendo que a expectativa depositada nas mulheres desde o berço é de serem grandes cuidadoras: primeiro do marido, depois dos filhos, depois dos idosos...
A educação que as meninas recebem desde cedo norteia para esse caminho... bonecas para brincar de mamãe... casinhas para brincar de dona-de-casa... Barbie´s e Poli´s para brincar de ser uma mulher linda e perfeita, e assim por diante... Crescemos construindo a expectativa de desempenhar bem esses papeis femininos.
Sem dúvida as mulheres evoluíram e transcenderam a tudo isso. Foram conquistados espaços importantes no mundo do trabalho, dos esportes, da política, sendo que hoje podemos dizer que não há uma só função nesse mundo que não possa ser brilhantemente desempenhada por uma mulher. Lindo discurso... belas e louváveis conquistas... mas a que preço? As mulheres não apenas conquistaram espaços e funções, mas sim acumularam funções e triplicaram, quadriplicaram expectativas.
Eis o momento que passamos de simples Cinderelas para Mulheres-Maravilha. Hoje SÓ se espera das mulheres que elas além de ótimas mães e esposas exemplares nos afazeres domésticos, ainda sejam muito bem sucedidas no trabalho, ganhem bastante dinheiro, tenham um bom currículo e se mantenham atualizadas, estejam sempre lindas, com corpos em forma, tenham disposição para uma vida social, estejam sempre prontas para apimentar a vida sexual... etc.
O mais grave disso tudo é que este padrão de exigências tão altas é cultivado e propagado pelas próprias mulheres. É só dar uma olhada nas capas de revistas femininas, que trazem a propaganda de verdadeiras cartilhas para conquistar a perfeição: “ Dez maneiras de crescer no trabalho”, “Dieta da Lua para um corpo perfeito em 7 dias”, “ Cinco dicas infalíveis para educar bem os filhos”, “ Manual do sexo prazeroso de A à Z”... Todos esses títulos remetem a uma só idéia: É você, mulher, que tem que se esforças mais para conquistar uma vida pessoal-conjugal-familiar feliz.
Ao meu ver, são essas expectativas descabidas que acabam gerando o adoecimento psíquico da maioria das mulheres. É comum os psicólogos receberem em seus consultórios mulheres exaustas e altamente culpada por não estarem conseguindo desempenhar com maestria seus mil e quinhentos papéis. Nota-se que até se sentem culpadas por não estarem plenamente felizes ou não se resignarem com “tudo de bom” que possuem. Vendo isso, percebo que não é à toa as mulheres sofrem mais depressão e doenças psicossomáticas.
As mulheres sabem cuidar... mas a maioria não sabe ser cuidada! Aprendem a se doar, a se preocupar com os outros, mas dificilmente conseguem olhar para dentro de si e perceber uma simples verdade: são humanas! Precisam de afeto, de cuidado... do olhar amoroso do outro. Grande parte das mulheres não deixa transparecer essas necessidades; vestem a roupa de Mulher-Maravilha e saem para o mundo... todos ao seu redor compram essa idéia e a tratam como tal. E aí se instaura o ciclo: os outros precisam, ela cuida, reforça a idéia de forte, os outros precisam mais, ela cuida mais... e assim por diante...
A psicoterapia acaba sendo um refúgio para que essas super-mulheres tenham espaço para expressar sua humanidade. Mostrar seus medos, suas inseguranças, suas carências... poder olhar para seu lado Cinderela, para suas expectativas e frustrações com os príncipes que inevitavelmente viram sapos...
Muita vezes o maior desafio da terapia é aprender a ser cuidada e a se deixar cuidar. Pode parecer pouco, mas faz uma enorme diferença. O alívio de poder transitar entre seu mundo de Cinderela e de Mulher-maravilha é uma conquista importante. Aprender a delimitar espaços, aceitar seus paradoxos, dosar expectativas, são conquistas indispensáveis para uma vida gratificante.
Mulheres, contem com ajuda! Mesmo que seja na intimidade de um consultório de psicologia. Sem dúvida, mulheres mais conscientes de seus limites são o primeiro passo para libertar tantas outras gerações de mulheres que podem e devem continuar a brilhar, mas de uma forma mais leve e humanizada.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Sexualidade na Infância: aspectos de sua manifestação


Freud foi o primeiro a reconhecer a existência de uma sexualidade infantil. Apesar de tal reconhecimento ter ocorrido há muito tempo, ainda hoje é um assunto controverso e, acima de tudo assustador para os pais. Além disso, atualmente vivemos uma época de extrema estimulação da sexualidade, num modelo adulto, que em muitos aspectos pode atropelar a passagem natural das crianças por seus estágios da sexualidade, conforme descreveu Freud.

A aflição dos pais sobre o tema é natural, frente a essa realidade. Muitos solicitam informações sobre o que é comum ou não em cada faixa etária. Sempre lembrando que nada é definitivo e que as crianças não são iguais, encontrei um livro que sintetiza o desenvolvimento sexual infantil de uma forma clara para leigos.

Trago aqui um levantamento adaptado de aspectos importantes para cada faixa etária conforme “Conversando com a criança sobre sexo: Quem vai responder?” de Gerson Lopes e Mônica Maia.

Recém nascido até 18 meses

Início do processo de aprendizagem da identidade e dos papéis sexuais.

Presença dos sentimentos sexuais/corporais nos primeiros meses de vida.

Início da aprendizagem de conhecer e experimentar o próprio corpo.

As primeiras experiências sexuais no contato com outras pessoas, principalmente sua mãe.

Atitude negativa dos adultos

Definir a criança como inocente e assexuada até a puberdade.

Reforçar os estereótipos do comportamento de meninos e de meninas.

Ignorar prazeres íntimos individuais como parte do lado bom da vida, e a sexualidade como ingrediente vital do relacionamento.

Atitude positiva dos adultos

Uso correto dos nomes para todas as partes do corpo.

Reagir naturalmente a qualquer manipulação genital.

Aceitar a sexualidade como parte da vida.

 

 

18 meses até 3 anos

Assimilação do vocabulário; aprendem a andar, correr, etc.

Expansão da consciência do mundo externo.

Surgem as primeiras perguntas sobre sexo, sobre as diferenças entre homens e mulheres.

Início do aprendizado do controle esfincteriano.

Aprecia experimentar seus próprios genitais.

Masturbação auxiliando na compreensão do seu corpo, de seu prazer e alívio de frustrações.

Início do processo de socialização.

Atitude negativa dos adultos

Evitam menções à área compreendida entre cintura e joelhos.

Diminuição do contato corporal, principalmente quando se trata de meninos.

Dificuldade em aceitar a existência de prazer sexual nas crianças.

Repressão levando à sexualidade culposa.

 

Atitude positiva dos adultos

A todo momento é importante que os adultos possam falar de suas vivências sexuais quando crianças, como uma forma de estarem mais aptos a entrar no quadro de referências das crianças.

Reagir com calma quando a criança usar palavras feias relacionadas a sexo e atividades sexuais. Substituí-las pelas palavras corretas.

Responder às perguntas de forma clara e objetiva. A criança não precisa de aula de biologia, mas de amor e sinceridade.

 

3 a 6 anos

Predominância do pensamento mágico.

Conflito entre o crescer e os privilégios de ser bebê.

Aprende a definir limites do eu e do outro e agora terá de aprender os limites dos comportamentos.

Grande interesse pelas formas de excreção.

Tem sua própria explicação fantasiosa de onde vêm os bebês.

Já é capaz de assimilar atitudes sexuais do meio, positivas ou negativas.

Torna-se mais autoconfiante e mais consciente de seus limites.

Familiaridade com diferença entre meninos e meninas.

Perguntas direcionadas ao funcionamento das “coisas”.

Inclui o outro nos seus jogos sexuais.

Atitude negativa dos adultos

Pouca consciência sobre onde começa a educação sexual.

Temor acerca da reação da criança frente às informações de cunho sexual.

Reação repressora frente aos jogos sexuais.

Expectativa de comportamento diferenciado entre meninos e meninas, levando a fortes conseqüências no comportamento sexual destes.

Pouca informação no processo de socialização sexual.

Evitar o contato corporal temendo despertar sentimentos eróticos neles e nas crianças.

 

Atitude positiva dos adultos

Seja qual for a mágica, é importante não zombar ou reprimir, apenas dê respostas objetivas.

Respostas curtas e objetivas nas perguntas sobre sexo.

Respeito aos próprios limites.

Ensinar às crianças que nenhum sentimento é feio, mas temos que aprender a expressá-los de forma adequada.

 

 

6 a 10 anos

Aumento da pressão por influências externas.

Interesse contínuo por assuntos sexuais.

Retraimento em contatos mais íntimos.

Brincadeiras sexuais, principalmente com o mesmo sexo, até por volta de 8 anos.

 

Atitude negativa dos adultos

Exigência rígida de comportamentos estereotipados.

Tabu acerca das brincadeiras sexuais entre as crianças.

 

Atitude positiva dos adultos

Receptividade às decisões das crianças.

Incentivar o senso crítico.

Oferecer espaço para discussão da sexualidade.

Usar respostas simples, pequenas e diretas a todas as perguntas.

Criar um clima sexual positivo para que as perguntas apareçam.

Usar oportunidades cotidianas para falar sobre sexo.

 

Referência:

LOPES, G.; MAIA, M. Conversando com a criança sobre sexo: Quem vai responder? Belo Horizonte: Autêntica/FUMEC, 2001.

 

segunda-feira, 23 de março de 2009

O papel da família e da escola na atualidade













* Slides utilizados na discussão sobre o tema com pais de alunos da Escola Constructor (nov/2007), em Porto Alegre.


terça-feira, 17 de março de 2009

As Evoluções da Psicologia e da Terapia de Família


Estamos passando por um momento de “desmistificação” da psicologia. A cada dia mais pessoas tomam conhecimento desta ciência, passando a usá-la não apenas como um pronto socorro para crises instaladas, mas sim como ferramenta para uma melhor qualidade de vida e de relacionamentos.
A psicologia evoluiu: Saiu das 4 paredes do consultórios para interagir com a sociedade, para compartilhar saberes à serviço da saúde e bem estar das pessoas. Evoluiu do tratamento de sintomas individuais – “tratar os loucos” – para a busca de auto-conhecimento, expansão dos recursos pessoais, além da otimização das relações de casal, família e organizações.
A terapia de família se mostra como grande precursora deste movimento, afinal, todos temos padrões familiares para rever. Percebemos que a família pode ser tanto uma fonte de saúde, como de adoecimento e por isso se faz tão necessário conhecer suas dinâmicas.
Podemos considerar a família como um sistema complexo, marcado por relações intensas e transformadoras. Desde que nascemos, temos em nossos pais, avós e parentes próximos nossos modelos de vida, sendo a família a matriz geradora de todas as outras relações. Portanto, muitas vezes seguimos vida à fora repetindo padrões pouco funcionais, tropeçando e repetindo histórias vividas em família, num movimento que nos impede de evoluir.
As vivencias em consultório nos mostram que dificuldades nos relacionamentos familiares acabam gerando o adoecimento de todos os seus membros. Em função das diferenças pessoais, cada um manifesta esses conflitos de uma forma: alguns com doenças físicas freqüentes, outros com perda de funcionalidade e problemas no trabalho, desadaptações escolares, problemas emocionais... enfim, cada um “escolhe” um sintoma que faz um link com suas questões individuais e a problemática familiar. Muitas vezes, é através desta pessoa que demonstra a dificuldade de forma mais expressiva que a família chega para a terapia, muitas vezes sem ter a idéia do quanto este tratamento pode beneficiar a todos.
Outro recurso muito importante é a terapia de casal. Temos que ter em mente que a família começa com a formação do casal, e portanto a qualidade da relação do casal é fundamental para a criação e manutenção de uma família saudável. O casal precisa de uma boa cumplicidade para passar pelas crises vitais inerentes a família: adaptação a vida de casado, chegada dos filhos, a educação dos mesmos, conquistas profissionais, saída dos filhos de casa, chegada dos netos, etc... Cada uma dessas crises vitais abala o casal de uma forma, e é muitas vezes num desses momentos de transição que a terapia de casal pode trazer benefícios e impedir grandes problemas.
Há um mito que a terapia de casal acaba resultando em divórcio. Na prática, vemos que isso não é verdade. O que acontece muitas vezes é que o casal só busca esse tipo de terapia quanto a relação já esta muito desgastada e não há mais disponibilidade para re-investir no casamento. Isso realmente é lamentável, pois intervenções em crises vitais (como as citadas acima) ou em eventos traumáticos (infidelidades, perdas significativas) ajudarão o casal e se reorganizar e construir uma relação com mais qualidade e bem estar. A terapia de casal é um recurso muito válido para melhorar o casamento e a vida familiar, pois muitas vezes ao invés de nos esconder atrás de antidepressivos e buscas mirabolantes para resolver nossos problemas, devemos buscar soluções práticas, que efetivamente vão nos trazer não só alívio, mas novos recursos para efetivamente resolver o que nos incomoda.
E é por todas estas questões que devemos buscar conhecer, experimentar e fazer uso dos recursos oferecidos pelos psicólogos e terapeutas de família. Há um universo de possibilidades a explorar. Devemos nos despir de preconceitos, de idéias distorcidas e mitos sobre a psicologia, passando a vê-la como um caminho que nos leva a uma melhor qualidade de vida.


Dayani Croda Machado

domingo, 8 de março de 2009

Luto familiar *

Luto já é um tema tabu. Como se não bastasse, as poucas pessoas que se atrevem a discuti-lo, geralmente o fazem a partir de uma compreensão individual de tal vivência. Não se pode esquecer, no entanto, que o luto é não só uma experiência quase inevitável para todos e que, uma vez que se vive em sociedade, vive-se também o luto de modo compartilhado.

Penso, então, no luto no âmbito familiar. Uma perda por morte em uma família pode ser entendida como várias perdas, no plural, pois uma pessoa morta significa para um membro um filho, para outro um irmão, um pai, um tio, um primo, um neto, um companheiro...

Cada pessoa individualmente vive o luto com suas próprias características. Numa família, portanto, esses lutos por uma só perda se intercalam, se misturam, tornam-se uma teia. Vários lutos se misturando e se alimentando.

Umas das fundamentais tarefas de famílias que passam por perdas por morte é compreender que, embora todos tenham perdido uma mesma pessoa, cada um teve uma vivência com ela. Cada um, simbolicamente, perdeu alguém diferente, pois o significado que essa pessoa representava, é diferente entre os sobreviventes. O vazio em cada um é num lugar diferente.

Além disso, as pessoas têm maneiras diferentes de lidar com emoções e isso contribui ainda mais para a vivência diferenciada de cada luto.  Cada um sente de um jeito, expressa sua dor de um jeito, e isso complica mais este processo, pois estando fragilizados é ainda mais difícil lidar com as diferenças. Por isso, é muito comum que, nesse momento de dor, os sobreviventes criem expectativas uns sobre os outros com relação à vivência do luto, sem compreender nem aceitar por que cada um sofre diferente.

Luto é um processo pelo qual todas as famílias passaram ou passarão em algum momento. Sendo naturalmente um processo difícil, muitas vezes pode tornar-se ainda mais complicado dependendo de suas circunstâncias. Pensando justamente nessas questões inerentes a passagem do processo de luto pelas famílias que se entende a importância da Terapia de Família, no sentido de promover a saúde dos relacionamentos que continuam vivos.

 

* Texto levantando um dos aspectos trabalhados no artigo “O legado transgeracional do luto: todo morto deixa uma herança”, trabalho de conclusão do 2º ano do curso de Formação em Terapia de Casal e Família da psicóloga Juliana Lima Medeiros.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Filhos X Divórcio

Como psicóloga clínica e terapeuta de família vejo crianças de todas as idades enfrentando com sofrimento as crises conjugais dos pais. Os problemas do casal sempre afetam os filhos, em maior ou menor grau e quando essas dificuldades resultam em separação, há um grande trabalho a ser feito.

Apesar do divórcio ser uma realidade cada vez mais presente, não podemos esquecer que é uma crise inesperada do ciclo evolutivo da vida familiar. Por ser uma crise, demanda muita energia e estrutura psíquica para ser elaborado sem grandes traumas.

Nesta crise todos sofrem, pois ela gera uma mudança na estrutura da família, muitas vezes desorganizando os papéis e hierarquias, gerando conflitos de lealdade, etc. O casal se vê sobrecarregado: precisa elaborar sua dor pessoal como homem/mulher, sofrendo com o luto da vida conjugal, e ainda se manter organizado como pais, podendo acolher e cuidar da dor dos filhos. Não é uma tarefa fácil, por isso muitas vezes tanto os pais quanto os filhos precisam de ajuda para superar estas mudanças.

Estudiosos da teoria sistêmica apontam 6 tarefas psicológicas a serem realizadas por filhos de pais separados. Esses estágios precisam ser vividos em plenitude para elaborar sentimentos que ficaram mal resolvidos a partir da separação. São eles:
1ª) Reconhecimento da separação conjugal
2ª) Obtenção de um distanciamento do conflito conjugal e a retomada dos afazeres cotidianos
3ª) Resolução da perda
4ª) Resolução da raiva e da auto-acusação
5ª) Aceitação da permanência do divórcio
6ª) Esperança realista em relação ao seus próprios relacionamentos no futuro

Não há um tempo estimado para passar por esses estágios, pois tudo vai depender do desenrolar do processo de divórcio e da capacidade da família se organizar para passar pela crise. A psicoterapia, tanto individual quanto familiar tem muito a ajudar neste processo, pois um profissional bem qualificado pode identificar em que estagio a família esta e ajudá-la avançar rumo a uma melhor qualidade de vida.

* Resumo do artigo “ Divórcio – Uma batalha a ser superada pela família” – Trabalho de conclusão do 1º Ano da Especialização em Terapia de Casal e Família no CEFI - Porto Alegre – Autoras: Dayani Croda Machado e Juliana Mano Hartmann