domingo, 8 de março de 2009

Luto familiar *

Luto já é um tema tabu. Como se não bastasse, as poucas pessoas que se atrevem a discuti-lo, geralmente o fazem a partir de uma compreensão individual de tal vivência. Não se pode esquecer, no entanto, que o luto é não só uma experiência quase inevitável para todos e que, uma vez que se vive em sociedade, vive-se também o luto de modo compartilhado.

Penso, então, no luto no âmbito familiar. Uma perda por morte em uma família pode ser entendida como várias perdas, no plural, pois uma pessoa morta significa para um membro um filho, para outro um irmão, um pai, um tio, um primo, um neto, um companheiro...

Cada pessoa individualmente vive o luto com suas próprias características. Numa família, portanto, esses lutos por uma só perda se intercalam, se misturam, tornam-se uma teia. Vários lutos se misturando e se alimentando.

Umas das fundamentais tarefas de famílias que passam por perdas por morte é compreender que, embora todos tenham perdido uma mesma pessoa, cada um teve uma vivência com ela. Cada um, simbolicamente, perdeu alguém diferente, pois o significado que essa pessoa representava, é diferente entre os sobreviventes. O vazio em cada um é num lugar diferente.

Além disso, as pessoas têm maneiras diferentes de lidar com emoções e isso contribui ainda mais para a vivência diferenciada de cada luto.  Cada um sente de um jeito, expressa sua dor de um jeito, e isso complica mais este processo, pois estando fragilizados é ainda mais difícil lidar com as diferenças. Por isso, é muito comum que, nesse momento de dor, os sobreviventes criem expectativas uns sobre os outros com relação à vivência do luto, sem compreender nem aceitar por que cada um sofre diferente.

Luto é um processo pelo qual todas as famílias passaram ou passarão em algum momento. Sendo naturalmente um processo difícil, muitas vezes pode tornar-se ainda mais complicado dependendo de suas circunstâncias. Pensando justamente nessas questões inerentes a passagem do processo de luto pelas famílias que se entende a importância da Terapia de Família, no sentido de promover a saúde dos relacionamentos que continuam vivos.

 

* Texto levantando um dos aspectos trabalhados no artigo “O legado transgeracional do luto: todo morto deixa uma herança”, trabalho de conclusão do 2º ano do curso de Formação em Terapia de Casal e Família da psicóloga Juliana Lima Medeiros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário