Freud foi o primeiro a reconhecer a existência de uma sexualidade infantil. Apesar de tal reconhecimento ter ocorrido há muito tempo, ainda hoje é um assunto controverso e, acima de tudo assustador para os pais. Além disso, atualmente vivemos uma época de extrema estimulação da sexualidade, num modelo adulto, que em muitos aspectos pode atropelar a passagem natural das crianças por seus estágios da sexualidade, conforme descreveu Freud.
A aflição dos pais sobre o tema é natural, frente a essa realidade. Muitos solicitam informações sobre o que é comum ou não em cada faixa etária. Sempre lembrando que nada é definitivo e que as crianças não são iguais, encontrei um livro que sintetiza o desenvolvimento sexual infantil de uma forma clara para leigos.
Trago aqui um levantamento adaptado de aspectos importantes para cada faixa etária conforme “Conversando com a criança sobre sexo: Quem vai responder?” de Gerson Lopes e Mônica Maia.
Recém nascido até 18 meses | ||
— Início do processo de aprendizagem da identidade e dos papéis sexuais. — Presença dos sentimentos sexuais/corporais nos primeiros meses de vida. — Início da aprendizagem de conhecer e experimentar o próprio corpo. — As primeiras experiências sexuais no contato com outras pessoas, principalmente sua mãe. | Atitude negativa dos adultos — Definir a criança como inocente e assexuada até a puberdade. — Reforçar os estereótipos do comportamento de meninos e de meninas. — Ignorar prazeres íntimos individuais como parte do lado bom da vida, e a sexualidade como ingrediente vital do relacionamento. | Atitude positiva dos adultos — Uso correto dos nomes para todas as partes do corpo. — Reagir naturalmente a qualquer manipulação genital. — Aceitar a sexualidade como parte da vida. |
18 meses até 3 anos | ||
— Assimilação do vocabulário; aprendem a andar, correr, etc. — Expansão da consciência do mundo externo. — Surgem as primeiras perguntas sobre sexo, sobre as diferenças entre homens e mulheres. — Início do aprendizado do controle esfincteriano. — Aprecia experimentar seus próprios genitais. — Masturbação auxiliando na compreensão do seu corpo, de seu prazer e alívio de frustrações. — Início do processo de socialização. | Atitude negativa dos adultos — Evitam menções à área compreendida entre cintura e joelhos. — Diminuição do contato corporal, principalmente quando se trata de meninos. — Dificuldade em aceitar a existência de prazer sexual nas crianças. — Repressão levando à sexualidade culposa. | Atitude positiva dos adultos — A todo momento é importante que os adultos possam falar de suas vivências sexuais quando crianças, como uma forma de estarem mais aptos a entrar no quadro de referências das crianças. — Reagir com calma quando a criança usar palavras feias relacionadas a sexo e atividades sexuais. Substituí-las pelas palavras corretas. — Responder às perguntas de forma clara e objetiva. A criança não precisa de aula de biologia, mas de amor e sinceridade. |
3 a 6 anos | ||
— Predominância do pensamento mágico. — Conflito entre o crescer e os privilégios de ser bebê. — Aprende a definir limites do eu e do outro e agora terá de aprender os limites dos comportamentos. — Grande interesse pelas formas de excreção. — Tem sua própria explicação fantasiosa de onde vêm os bebês. — Já é capaz de assimilar atitudes sexuais do meio, positivas ou negativas. — Torna-se mais autoconfiante e mais consciente de seus limites. — Familiaridade com diferença entre meninos e meninas. — Perguntas direcionadas ao funcionamento das “coisas”. — Inclui o outro nos seus jogos sexuais. | Atitude negativa dos adultos — Pouca consciência sobre onde começa a educação sexual. — Temor acerca da reação da criança frente às informações de cunho sexual. — Reação repressora frente aos jogos sexuais. — Expectativa de comportamento diferenciado entre meninos e meninas, levando a fortes conseqüências no comportamento sexual destes. — Pouca informação no processo de socialização sexual. — Evitar o contato corporal temendo despertar sentimentos eróticos neles e nas crianças. | Atitude positiva dos adultos — Seja qual for a mágica, é importante não zombar ou reprimir, apenas dê respostas objetivas. — Respostas curtas e objetivas nas perguntas sobre sexo. — Respeito aos próprios limites. — Ensinar às crianças que nenhum sentimento é feio, mas temos que aprender a expressá-los de forma adequada. |
6 a 10 anos | ||
— Aumento da pressão por influências externas. — Interesse contínuo por assuntos sexuais. — Retraimento em contatos mais íntimos. — Brincadeiras sexuais, principalmente com o mesmo sexo, até por volta de 8 anos. | Atitude negativa dos adultos — Exigência rígida de comportamentos estereotipados. — Tabu acerca das brincadeiras sexuais entre as crianças. | Atitude positiva dos adultos — Receptividade às decisões das crianças. — Incentivar o senso crítico. — Oferecer espaço para discussão da sexualidade. — Usar respostas simples, pequenas e diretas a todas as perguntas. — Criar um clima sexual positivo para que as perguntas apareçam. — Usar oportunidades cotidianas para falar sobre sexo. |
Referência:
LOPES, G.; MAIA, M. Conversando com a criança sobre sexo: Quem vai responder? Belo Horizonte: Autêntica/FUMEC, 2001.
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