quarta-feira, 1 de abril de 2009

Sexualidade na Infância: aspectos de sua manifestação


Freud foi o primeiro a reconhecer a existência de uma sexualidade infantil. Apesar de tal reconhecimento ter ocorrido há muito tempo, ainda hoje é um assunto controverso e, acima de tudo assustador para os pais. Além disso, atualmente vivemos uma época de extrema estimulação da sexualidade, num modelo adulto, que em muitos aspectos pode atropelar a passagem natural das crianças por seus estágios da sexualidade, conforme descreveu Freud.

A aflição dos pais sobre o tema é natural, frente a essa realidade. Muitos solicitam informações sobre o que é comum ou não em cada faixa etária. Sempre lembrando que nada é definitivo e que as crianças não são iguais, encontrei um livro que sintetiza o desenvolvimento sexual infantil de uma forma clara para leigos.

Trago aqui um levantamento adaptado de aspectos importantes para cada faixa etária conforme “Conversando com a criança sobre sexo: Quem vai responder?” de Gerson Lopes e Mônica Maia.

Recém nascido até 18 meses

Início do processo de aprendizagem da identidade e dos papéis sexuais.

Presença dos sentimentos sexuais/corporais nos primeiros meses de vida.

Início da aprendizagem de conhecer e experimentar o próprio corpo.

As primeiras experiências sexuais no contato com outras pessoas, principalmente sua mãe.

Atitude negativa dos adultos

Definir a criança como inocente e assexuada até a puberdade.

Reforçar os estereótipos do comportamento de meninos e de meninas.

Ignorar prazeres íntimos individuais como parte do lado bom da vida, e a sexualidade como ingrediente vital do relacionamento.

Atitude positiva dos adultos

Uso correto dos nomes para todas as partes do corpo.

Reagir naturalmente a qualquer manipulação genital.

Aceitar a sexualidade como parte da vida.

 

 

18 meses até 3 anos

Assimilação do vocabulário; aprendem a andar, correr, etc.

Expansão da consciência do mundo externo.

Surgem as primeiras perguntas sobre sexo, sobre as diferenças entre homens e mulheres.

Início do aprendizado do controle esfincteriano.

Aprecia experimentar seus próprios genitais.

Masturbação auxiliando na compreensão do seu corpo, de seu prazer e alívio de frustrações.

Início do processo de socialização.

Atitude negativa dos adultos

Evitam menções à área compreendida entre cintura e joelhos.

Diminuição do contato corporal, principalmente quando se trata de meninos.

Dificuldade em aceitar a existência de prazer sexual nas crianças.

Repressão levando à sexualidade culposa.

 

Atitude positiva dos adultos

A todo momento é importante que os adultos possam falar de suas vivências sexuais quando crianças, como uma forma de estarem mais aptos a entrar no quadro de referências das crianças.

Reagir com calma quando a criança usar palavras feias relacionadas a sexo e atividades sexuais. Substituí-las pelas palavras corretas.

Responder às perguntas de forma clara e objetiva. A criança não precisa de aula de biologia, mas de amor e sinceridade.

 

3 a 6 anos

Predominância do pensamento mágico.

Conflito entre o crescer e os privilégios de ser bebê.

Aprende a definir limites do eu e do outro e agora terá de aprender os limites dos comportamentos.

Grande interesse pelas formas de excreção.

Tem sua própria explicação fantasiosa de onde vêm os bebês.

Já é capaz de assimilar atitudes sexuais do meio, positivas ou negativas.

Torna-se mais autoconfiante e mais consciente de seus limites.

Familiaridade com diferença entre meninos e meninas.

Perguntas direcionadas ao funcionamento das “coisas”.

Inclui o outro nos seus jogos sexuais.

Atitude negativa dos adultos

Pouca consciência sobre onde começa a educação sexual.

Temor acerca da reação da criança frente às informações de cunho sexual.

Reação repressora frente aos jogos sexuais.

Expectativa de comportamento diferenciado entre meninos e meninas, levando a fortes conseqüências no comportamento sexual destes.

Pouca informação no processo de socialização sexual.

Evitar o contato corporal temendo despertar sentimentos eróticos neles e nas crianças.

 

Atitude positiva dos adultos

Seja qual for a mágica, é importante não zombar ou reprimir, apenas dê respostas objetivas.

Respostas curtas e objetivas nas perguntas sobre sexo.

Respeito aos próprios limites.

Ensinar às crianças que nenhum sentimento é feio, mas temos que aprender a expressá-los de forma adequada.

 

 

6 a 10 anos

Aumento da pressão por influências externas.

Interesse contínuo por assuntos sexuais.

Retraimento em contatos mais íntimos.

Brincadeiras sexuais, principalmente com o mesmo sexo, até por volta de 8 anos.

 

Atitude negativa dos adultos

Exigência rígida de comportamentos estereotipados.

Tabu acerca das brincadeiras sexuais entre as crianças.

 

Atitude positiva dos adultos

Receptividade às decisões das crianças.

Incentivar o senso crítico.

Oferecer espaço para discussão da sexualidade.

Usar respostas simples, pequenas e diretas a todas as perguntas.

Criar um clima sexual positivo para que as perguntas apareçam.

Usar oportunidades cotidianas para falar sobre sexo.

 

Referência:

LOPES, G.; MAIA, M. Conversando com a criança sobre sexo: Quem vai responder? Belo Horizonte: Autêntica/FUMEC, 2001.

 

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