segunda-feira, 13 de abril de 2009

DE CINDERELA À MULHER MARAVILHA

Apesar do machismo presente em nossa sociedade, é inegável que as mulheres sempre desempenharam um papel central na vida familiar. Os papeis de mãe e esposa sempre foram os alicerces da família, sendo que a expectativa depositada nas mulheres desde o berço é de serem grandes cuidadoras: primeiro do marido, depois dos filhos, depois dos idosos...
A educação que as meninas recebem desde cedo norteia para esse caminho... bonecas para brincar de mamãe... casinhas para brincar de dona-de-casa... Barbie´s e Poli´s para brincar de ser uma mulher linda e perfeita, e assim por diante... Crescemos construindo a expectativa de desempenhar bem esses papeis femininos.
Sem dúvida as mulheres evoluíram e transcenderam a tudo isso. Foram conquistados espaços importantes no mundo do trabalho, dos esportes, da política, sendo que hoje podemos dizer que não há uma só função nesse mundo que não possa ser brilhantemente desempenhada por uma mulher. Lindo discurso... belas e louváveis conquistas... mas a que preço? As mulheres não apenas conquistaram espaços e funções, mas sim acumularam funções e triplicaram, quadriplicaram expectativas.
Eis o momento que passamos de simples Cinderelas para Mulheres-Maravilha. Hoje SÓ se espera das mulheres que elas além de ótimas mães e esposas exemplares nos afazeres domésticos, ainda sejam muito bem sucedidas no trabalho, ganhem bastante dinheiro, tenham um bom currículo e se mantenham atualizadas, estejam sempre lindas, com corpos em forma, tenham disposição para uma vida social, estejam sempre prontas para apimentar a vida sexual... etc.
O mais grave disso tudo é que este padrão de exigências tão altas é cultivado e propagado pelas próprias mulheres. É só dar uma olhada nas capas de revistas femininas, que trazem a propaganda de verdadeiras cartilhas para conquistar a perfeição: “ Dez maneiras de crescer no trabalho”, “Dieta da Lua para um corpo perfeito em 7 dias”, “ Cinco dicas infalíveis para educar bem os filhos”, “ Manual do sexo prazeroso de A à Z”... Todos esses títulos remetem a uma só idéia: É você, mulher, que tem que se esforças mais para conquistar uma vida pessoal-conjugal-familiar feliz.
Ao meu ver, são essas expectativas descabidas que acabam gerando o adoecimento psíquico da maioria das mulheres. É comum os psicólogos receberem em seus consultórios mulheres exaustas e altamente culpada por não estarem conseguindo desempenhar com maestria seus mil e quinhentos papéis. Nota-se que até se sentem culpadas por não estarem plenamente felizes ou não se resignarem com “tudo de bom” que possuem. Vendo isso, percebo que não é à toa as mulheres sofrem mais depressão e doenças psicossomáticas.
As mulheres sabem cuidar... mas a maioria não sabe ser cuidada! Aprendem a se doar, a se preocupar com os outros, mas dificilmente conseguem olhar para dentro de si e perceber uma simples verdade: são humanas! Precisam de afeto, de cuidado... do olhar amoroso do outro. Grande parte das mulheres não deixa transparecer essas necessidades; vestem a roupa de Mulher-Maravilha e saem para o mundo... todos ao seu redor compram essa idéia e a tratam como tal. E aí se instaura o ciclo: os outros precisam, ela cuida, reforça a idéia de forte, os outros precisam mais, ela cuida mais... e assim por diante...
A psicoterapia acaba sendo um refúgio para que essas super-mulheres tenham espaço para expressar sua humanidade. Mostrar seus medos, suas inseguranças, suas carências... poder olhar para seu lado Cinderela, para suas expectativas e frustrações com os príncipes que inevitavelmente viram sapos...
Muita vezes o maior desafio da terapia é aprender a ser cuidada e a se deixar cuidar. Pode parecer pouco, mas faz uma enorme diferença. O alívio de poder transitar entre seu mundo de Cinderela e de Mulher-maravilha é uma conquista importante. Aprender a delimitar espaços, aceitar seus paradoxos, dosar expectativas, são conquistas indispensáveis para uma vida gratificante.
Mulheres, contem com ajuda! Mesmo que seja na intimidade de um consultório de psicologia. Sem dúvida, mulheres mais conscientes de seus limites são o primeiro passo para libertar tantas outras gerações de mulheres que podem e devem continuar a brilhar, mas de uma forma mais leve e humanizada.

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